Recuperação

Milagre: jovem que caiu de quadriciclo em Maricá retoma a vida

Sobrevivente Daniel Mencari, 16 anos, não apresenta sequelas

 

Grave acidente foi no dia 28 de junho na orla de Itaipuaçu, em Maricá
Grave acidente foi no dia 28 de junho na orla de Itaipuaçu, em Maricá |  Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

A plena recuperação do adolescente Daniel Mencari, de 16 anos, um dos envolvidos no grave acidente de quadriciclo que vitimou o jovem Lorenzo Martins, em Itaipuaçu, distrito de Maricá, em junho deste ano, é definida pela mãe do rapaz como "um milagre".

Quase cinco meses após o caso, Dan — como é chamado por familiares — não tem sequelas físicas ou neurológicas e, segundo a mãe dele, a farmacêutica Adriana Mencari, de 46 anos, está prestes a realizar sua última intervenção cirúrgica: que é a colocação de uma prótese 3D para reconstrução da calota craniana.

Ele faria neste domingo (13) no Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), onde já passou 51 longos dias, entre a vida e a morte, após sofrer um traumatismo cranioencefálico, na noite do acidente, em 28 de junho. Mas o procedimento foi adiado pelos médicos, devido ao quadro de febre apresentado por Daniel. Ainda não há uma nova data prevista.

"O Daniel caiu de cabeça, quebrou o osso da cabeça do lado esquerdo. O cérebro é um local que não tem espaço para inchar, por isso, o médico teve que abrir a caixa craniana para o cérebro expandir, algo em torno de 30%, 40% da calota craniana foi retirada", explica Adriana ao ENFOCO.

Essa calota é a porção superior do crânio, ou seja, os ossos que fecham o crânio superiormente, sendo formada pela junção dos três maiores ossos da estrutura esquelética da cabeça, e que são os últimos a se fechar, formando três das mais importantes suturas do crânio.

Na linha do tempo, o menino transitou pelo Centro de Terapia Intensivo (CTI), até chegar ao quarto, e, enfim, ser liberado da unidade médica em meados do ano.

Ao todo, três adolescentes se envolveram no acidente em junho, em Itaipuaçu. À época eles tinham a mesma idade: 15. Todos amigos. Um deles, o que dirigia o quadriciclo, foi socorrido e liberado logo depois.

Para pilotar um quadriciclo é obrigatória a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação - Categoria B, portanto a partir dos 18 anos, conforme as regras de trânsito.

A reportagem apurou que a família do rapaz, dona do quadriciclo, prestou total assistência ao Daniel. 

No período internado, Daniel Mencari ainda foi diagnosticado com pneumonia e chegou a sofrer parada cardiorrespiratória, sendo reanimado pelos médicos do CHN, por cerca de dois minutos e 10 segundos.

Em 27 de julho, quando fez 16 anos, ele teve alta do CTI. E, mais tarde, em 18 de agosto, pôde ir para casa, onde desde então recebe cuidados domiciliares. Daniel também já retornou à escola, em 19 de setembro, onde participa das aulas e das provas.

"No aniversário dele, ainda no hospital, ele foi liberado pro quarto. Fizemos festa pra ele, foram todos os amigos, a fonoaudióloga foi ensinando ele a falar, fechando o buraquinho da traqueostomia, fez a primeira alimentação oral, andando de cadeira de rodas, mas com controle de tronco. Ele já sentava, interagia, mesmo fraquinho", lembra Adriana. 

Daniel Mencari, 16, mora com os pais e dois irmãos em Camboinhas, Niterói
Daniel Mencari, 16, mora com os pais e dois irmãos em Camboinhas, Niterói |  Foto: Arquivo Pessoal
  

Antes do acidente

A família de Daniel mora em um condomínio de luxo em Camboinhas, na Região Oceânica de Niterói. No dia do acidente, o menino estava feliz, já que havia tirado boas notas na escola, quando pediu a mãe para brincar com os amigos. O prédio abriga um grande espaço de lazer.

"Ele chega pra mim e pergunta se poderia descer. A gente não deixa ele andar de quadriciclo, nunca deixou, o meu marido, inclusive, é extremamente radical. A gente não tem quadriciclo. O meu esposo tem uma moto elétrica, mas deixar ele [Daniel] sair com ela, jamais", explica.

Junto do esposo Rodrigo Duarte, 46 anos, que atua como despachante aduaneiro, Adriana Mencari tem três filhos: além do Daniel; o mais velho Rafael Mencari, 17 anos; e a caçula Maria Eduarda, de 10.

Por volta de 19h da noite de 28 de junho, Daniel desceu do prédio e, sem ciência da mãe, pegou carona de quadriciclo com um amigo, também menor, com destino à orla de Itaipuaçu, em Maricá.

"Ele abriu a porta do meu quarto e falou: vou descer. Jogou beijo e desceu. O amigo já estava aguardando, pegou ele, foram na casa do Lorenzo [em memória] lanchar e depois foram pra Itaipuaçu. O amigo que se mudou para São Paulo dirigia; o Lorenzo no meio e o Dan atrás. O acidente foi às 21h", continua.

A farmacêutica Adriana Mencari, de 46 anos, junto ao filho Daniel Mencari - após a alta hospitalar
A farmacêutica Adriana Mencari, de 46 anos, junto ao filho Daniel Mencari - após a alta hospitalar |  Foto: Arquivo Pessoal
  

Socorro médico

Foram os primeiros socorros que determinaram a evolução clínica do estudante Daniel, que peregrinou com médicos por diversas unidades hospitalares em três cidades: Hospital Municipal Conde Modesto Leal, em Maricá; Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo; até chegar ao CHN, em Niterói.

"O socorro do Samu aconteceu entre 8 e 10 minutos. Foi muito rápido. A ação de Deus já começou ali naquele momento. Ele foi para o Conde, onde preservaram a parte neurológica. Na mesma noite ele foi transferido para o Alberto Torres, onde ele fez tomografia. Lá foi pedido uma espera de 12h para ver como o cérebro se comportaria. E no dia seguinte levado para o CHN, onde fez a cirurgia. As primeiras horas foram fundamentais", lembrou Adriana.

Inicialmente, Daniel foi sedado e colocado em coma induzido, seguido de outra série de procedimentos médicos determinantes.

"Isso foi um dos motivos que preservaram o Daniel. Essa decisão de intubar foi muito importante. Dan não tem sequela nenhuma, graças aos primeiros socorros, que serviram como uma espécie de descanso, de colocar o cérebro dele para dormir, preservar, e ver qual foi a gravidade, ainda em Maricá".

A monitorização da pressão intracraniana (PIC) foi a primeira intervenção do paciente no CHN, no dia 29. Essa unidade médica foi onde Daniel passou temporada maior, após ser transferido do Alberto Torres, onde passou a madrugada anterior à transferência definitiva.

O método feito já no hospital particular de Niterói forneceu aos médicos informações importantes que precediam o aparecimento de sinais e sintomas de descompensação do paciente neurocrítico, permitindo ações mais precoces e eficazes.

Ao perceber elevação de pressão, os médicos viram a necessidade de cirurgia, que ocorreu cerca de 48h após o grave acidente.

"Para a equipe médica, era visível que o cérebro iria inchar mais e mais. O médico me chama, fala sobre o risco, edema muito grande, sangramento, e as duas opções: abrir a cabeça ou perder o paciente. Naquele momento era tudo ou nada", lembrou emocionada.

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Dias após, Daniel Mencari enfrentou uma forte pneumonia. Um novo pesadelo aos familiares.

"Ele ficou com uma febre que não cessava de jeito nenhum, mas estava caminhando, progredindo, a gente estava vendo a recuperação da atividade cerebral, teve, também, paralela a essa pneumonia, as orações. Ele respondia bem, quando desligava a oxigenação. Até que decidiram extubar o Daniel sem a traqueostomia". 

No dia 11 de julho, segundo a mãe Adriana, os médicos precisaram entubar Daniel de novo, para evitar uma falência pulmonar.

"Paracetamol, dipirona, bolsa de gelo e não saia de 37 de febre. Fez traqueostomia no dia 12, e dali em diante ele sai do período crítico, com inchaço minimizado, pneumonia começando a cessar, a medicação fazendo efeito, bactéria acabando e sai do tubo".

Daniel, então, começa a fisioterapia, para voltar a andar, e ter a vida normal, até receber alta hospitalar no mês de agosto. A partir daí, a família dele passou por um imbróglio com o plano de saúde, envolvendo a colocação da prótese na cabeça. Mas o final feliz chegou no início desta semana.

"Tive que recorrer ao Ministério Público, à Justiça. Depois de uma pressão, o plano aprova a prótese. O médico entra com pedido para confeccionar e chegou na segunda-feira (7). E dia 13 ele faz a cirurgia, a última etapa de reconstrução [...] É como um bebê que começa a interagir. Não tem como mensurar o tamanho da lesão. Os próprios médicos viram um milagre. Ele voltou. E voltou normal. Incrível. Só voltou normal, primeiro: pela intervenção de Deus; e segundo: o socorro foi muito rápido. Foi tudo na hora certa", finalizou Adriana Mencari.

Lei

Para pilotar um quadriciclo é obrigatória a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação - Categoria B, portanto a partir dos 18 anos.

Segundo o Detran, o uso de equipamentos de proteção individual é fundamental e obrigatório: capacete de segurança, com viseira ou óculos protetores, em acordo com a legislação vigente aplicável às motocicletas. O descumprimento é passível de multa.

A identificação dos quadriciclos se dá por meio da gravação do Número de Identificação do Veículo (VIN), de acordo com as normas e especificações vigentes.

Outro fator importante é o licenciamento. Pelo fato de serem veículos automotores e elétricos, devem ser registrados e licenciados anualmente no Detran, lembrou o órgão ao ENFOCO.

Nas vias públicas, como as praias abertas à circulação, é necessário o emplacamento, que ocorre na parte traseira do veículo. Deve-se obedecer aos modelos e especificações estabelecidos na Resolução do Contran nº 573/15. Segundo a Resolução CONTRAN Nº 573/15, é proibida a circulação em vias públicas de veículos similares sem homologação.

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